Quando fui convidada a visitar algumas padarias da cidade meus olhos se encheram de alegria e a gula me assaltou de forma furiosamente indomável. Mas as lembranças que me vieram à mente foram da minha infância, quando minha mãe pedia pra um dos filhos ir até a IV Centenário, antiga e já extinta padaria na Vila Clementino. No caminho já dava pra sentir o cheiro de pão que invadia a rua e provocava fila na porta, pelo menos em dois momentos do dia – lá pelas sete da manhã e às cinco e meia da tarde. E, sejamos justos: não tem como resistir a um pão quentinho.
E foi esta lembrança de mãe no fogão, da mordida na casca crocante, do cheiro do café de coador, da manteiga derretendo devagarinho no miolo quente, da avó cortando o pão italiano para depois mergulhar as fatias no vinho durante o almoço de domingo que me vieram à mente neste fim de semana, quando visitei três padarias na zona norte de São Paulo. As visitas eram parte do Padocaria, evento que por meio do voto popular e de um júri de especialistas vai escolher a melhor padaria de cada região da cidade, em várias categorias. Nada mais merecido.
Mas o que faz da padaria ser um bem cultural tão merecidamente aclamado pelos paulistanos a ponto de ganhar um evento deste porte? Falo por mim: é exatamente a lembrança da infância, é o resgate do pão com geleia devorado no recreio, é o carinho que transborda no cheiro de pão quentinho, do pingado, do café de coador, da broa de milho, do pão doce, dos sonhos recheados, das “bengalas”, do pão italiano, do pão de calabresa, dos embutidos pendurados sobre o balcão, daquele palco de aromas, texturas e paladares tão diferentes e tão convidativos…
Hoje as padarias perderam a sisudez de antigamente e se reinventaram, são pontos de encontro tão aconchegantes que você passa horas ali sem perceber. Porque ela traz a saudade de um tempo que queremos preservar. Repletas de cores, misturas e ingredientes inusitados a cada receita, exibem novidades que aguçam a gula e o paladar. Quem resiste? Padaria é uma coisa de respeito, minha gente.
De cada uma das três que visitei – e que recomendo com força – destaco pelo menos um item que você não pode deixar de provar, dentre tantas delícias, sabores, texturas e aromas:
Na Arizona (Avenida Nova Cantareira, 3.254, Tucuruvi) não deixe de provar a rabanada. Um segredo não revelado da receita torna seu sabor único e inesquecível.
O melhor pão na chapa com requeijão de entrada você saboreia na Estado Luso (Avenida Águas de São Pedro, 228, Vila Pauliceia). Devorei dois com orgulho.
E na Paris (Rua Vaz Muniz, 776 b- Jardim França) você conhece o pão francês brasileiro (isso mesmo), receita inventada pelo padeiro Bonfim. Leva urucum, alho, sal, canela e outros ingredientes.
As outras padocas que concorrem na zona norte são a Líder (Rua Paulo de Avelar, 916, Vila Ede) e a Nova Cigana (Avenida Elísio Teixeira Leite, 559, Freguesia do Ó)
Quer ajudar na escolha da melhor padaria da sua região? Então vote na sua preferida: @padocariasp, www.padocariasp.com.br
Autora desconhecida
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